domingo, 27 de dezembro de 2009

Ernestine Schumann-Heink (1861-1936)





Contralto austríaca naturalizada americana, cuja tessitura vocal permitia os floreados da coloratura. Para ouvir e explorar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Então não me lembro?

Evidente que sim!
Foi tão bom recordar, no Jornal I, a secção do jornal Blitz, "Pregões e Declarações", por ocasião dos 25 anos celebrados por esta publicação! Isto porque foi uma secção onde participei activamente com poemas meus. No geral, não demoravam muito tempo a ser publicados. Se não acontecia na semana seguinte, na outra era garantido. Confesso que, num acto de orgulho adolescente (numa das minhas adolescências mais antigas), cortava e guardava quadradinhos de jornal referentes aos meus escritos. Mais engraçado ainda era ver a participação de algumas "figuras do costume", cuja presença já era habitual nos "Pregões...".
Do Blitz guardei a edição nº 666 que vinha com o dark lord da altura na capa... imaginem... Marilyn Manson!, numa das (senão "a"?) suas primeiras aparições por terras Lusas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A música visual de Karlheinz Stockhausen - Opinião - DN



Sempre gostei muito das crónicas do Sr. João Lopes, a ponto de recortá-las do jornal e guardá-las. Existiram algumas que tiveram um grande significado para mim, académico, diga-se. Ainda me lembro de uma, se não a última que li, que versava sobre as qualidades tácteis de um anúncio publicitário numa revista. Desta feita, venho encontrá-lo no DN Online, que não lia há algum tempo, muito menos os artigos de opinião. E ei-lo num artigo sobre o compositor (e porque não qualificá-lo também como artista?)Karlheinz Stockhausen, que tive a oportunidade de "conhecer" há alguns anos através de um excelente ensaio presente no livro "Obra Aberta" de Umberto Eco. É que Stockhausen não foi só um compositor; levou a música a outras formas de expressão e de fruição. Ouçam algumas obras, vejam o documentário "Helicopter String Quartet" no medici.tv e façam a gentileza de ler o artigo:
A música visual de Karlheinz Stockhausen - Opinião - DN

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Falência



Eu já vi e ouvi este vídeo inúmeras vezes. Se a memória não me falha, estamos aqui perante o mestre do violoncelo, Rostropovich, e um dos mestres russos, Shostakovich, que, muito a par de Prokofiev, é um dos meus compositores favoritos, cujo Concerto nº 1 para Violoncelo foi composto especialmente para este intérprete, que o aprendeu (e apreendeu) num tempo record. Os tronos dos meus favoritos raramente caem para dar lugar a outros. O Dalí, que nunca foi, pessoalmente, um favorito, fazia experiências surrealistas como escrever ou pintar com sono. Andava tudo louco pelos anos 30. O Breton é que devia ter escrito umas boas assim meio grogue, ensonado, drogado. Eu sinto-me um bocadinho desses três.

Podia ter colocado este post no Soldado do lado (do Fado!), até tinha aqui um fadinho para acompanhar, mas cansou-me aquela discussão de merda no último verbete. Como já estava cansada do blogue, depois daquilo ainda fiquei mais farta. É que a actividade na net é sempre a mesma coisa. Falemos sobre metal, clássica, fado, vai tudo dar ao mesmo, às mesmas querelas. Eu já andei em muitas e agora só me apetece falar de flores. Flores, passeios, ar, cerveja e cozido à portuguesa. Coisas simples e sem tretas intelectuais, que essas, vou reservar para quando me sentir estruturalmente preparada para me fingir de conhecedora e inteligente e para envergar a capa da prepotente do costume.

Esta Cadenza é uma obra lindíssima. Corrijam-me os entendidos na matéria, mas a cadenza, segundo li por aí, é uma composição escrita pelo compositor (perdoem-me a redundância!), que confere espaço à recriação do intérprete. Assim género estilar, estão a ver, ó fadistas? Pois, mas, no que respeita a esta cadenza em particular, nunca vi ninguém a tocá-la de outra forma que não esta, com uma ou outra nuance própria da interpretação, mas não da recriação. Comentários hipotéticos à parte, considero este o meu movimento favorito deste pequeno concerto.

À primeira audição, a paixão pelo primeiro andamento assolapou-me, mas depois foi a Cadenza que foi ganhando espaço no meu espírito obstruído e nitidamente obsessivo. E muito penso que estará este amor (ou paixão) relacionado com a minha figurinha sentimental. É uma figurinha risível, acreditem-me. Uma dissonância absoluta da espécie, uma desagregação, uma viagem pelas divergências do sentido. É uma Pena! "Ai esta pena de mim", até podia ser isto, mas, não era este o fadinho que teria escolhido para acompanhar esta valsa de maus humores. Um dia hei-de colocá-lo no sítio certo (vá lá, não sejam malandros...), porque as agruras não têm fim e muito posso escrever sobre elas e para elas. Correspondemo-nos muito e uma das formas de nos entendermos é ouvindo a Cadenza do Shostakovich, que deixa uma pessoa destrambelhada, desorientada, mas agradavelmente encalhada ali entre o delírio apatarecado e a sensação de posse de um tesouro nunca dantes conhecido. Invariavelmente, tudo aquilo que amamos é um tesouro que outrem desconhece, muito por obra dessa disposição que em nós é única, essa potencialidade da capacidade de sentir. Quem a tem, abraçará muitos tesouros.

Quem não a tem entra em falência estética, sentimental, espiritual, intelectual, cerebral. Enfim, é um COMA.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Orchestra Baobab - Mythical

THE ORCHESTRA BAOBAB STORY
Orchestra Baobab are one of Africa’s great iconic bands, creators of one of the world’s most sublime and truly distinctive pop sounds. Founded in 1970, Orchestra Baobab fused Afro-Cuban rhythm and Portuguese Creole melody with Congolese rumba, high life and a whole gamut of local styles – kickstarting a musical renaissance in their native Senegal, which turned the capital Dakar into one of the world’s most vibrant musical cities. They produced more hits in less than a decade than other bands in a lifetime. While Baobab found themselves sidelined by the revolution they helped create and disbanded in 1985, a huge groundswell of international interest led to their triumphant reformation in 2001. Orchestra Baobab are still very much in business today.
(...)

Wanda Landowska




No passado mês de Setembro a revista Diapason recordou Wanda Landowska, agraciando-nos com um dossier sobre a vida e obra da pianista e ainda um volume dos indispensables, com interpretações de obras de Mozart.

Neste vídeo Wanda Landowska interpreta Rondo em Lá Menor KV 511:

Vácuo

É inevitável abraçar o fim, a redoma de silêncio, o enclausuramento da alma.
Inevitável perseguir essa inquietação, ou que ela nos persiga, ou que de nós se alimente, ou que com o nosso riso brinque, o nosso estar e a nossa Presença aflija.
No meio da movimentação daquele espaço, sentia-se só, absorvida, esquecida. O que permanecerá na mesma?, pensou. Rodeada daquilo que uma vez foi, uma vez deixou recordações. O cheiro a morte, a infância, a solidão, o sono. Encontrou uma referência no tempo, que a torna, a custo, presente. Clausura no passado e pena do futuro. Quantas expectativas, intenções, desejos?Quanta vontade de ser vaga e quase nula, intrincada no próprio delírio. Foi uma encarnação noutro corpo e noutra alma; qual será aquela que tomba de vez com toda a nulidade do sentido... e do sentir?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

À nossa!






A Hora é nossa. Chegou a Hora da verdade.

É que nem uma coisa, nem outra. Aliás a Verdade, infelizmente, é coisa que raramente chega a horas, quando chega!

E nossas são todas as horas e minutos para encher a pança com mentiras, salvo raríssimas e louváveis excepções.

Observar estes dois cartazes deixa pouco mais a dizer quanto à forma como a propaganda política perdeu a agressividade... mas também a preponderância.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

QUICK QUICK SLOW





Curadora: Emily King

A ideia é muito, mas muito interessante. O tempo associado ao design gráfico e à arte desse século de absolutos. Não é que não possamos elaborar um paralelo e uma relação muito próxima entre essas arrebatadoras vanguardas (históricas e novas) e a captação do movimento e da ideia de tempo como fenómeno plástico. É sedutora e atraente essa emanação que surge das imagens, construídas como estruturas que guardam um impacto de tempo no seu próprio cuidado. O fluir da maquinaria que trouxe essa traumatizante revolução industrial, esse evoluir ao sabor das Guerras e que perpetrou as mais inspiradas transgressões. Guerra real, guerra conceptual. Desumanização.
O design gráfico também sofreu essa consequência que se plasma na eminência do tempo devastador que tudo varre. A cólera das vanguardas históricas desenhou essas formas impactantes, pregnantes, significantes, cativantes, propagandísticas quase, se não nos anos 20, posteriormente, de certeza. Foi um ruborescer que andava a par do tédio e a desilusão decorrentes da 1ª Guerra, fará da 2ª, quando se questionou o sentido de qualquer criação artística. Afinal o Homem era o quê? Por onde se arrastou, amargando, esse Iluminismo dourado?
É explicado, no panfleto, que hoje em dia existe um amainar dessa velocidade e desse estigma da novidade. Pudera... com indivíduos a viver a 1000 à hora, com a globalização e o funcionamento da sociedade acompanhado de perto pela evolução das tecnologias, que poupam tempo, para podermos ter tempo para tudo o resto, e que no fim, de pouco (tempo) resta; o abrandamento não é real, é desejo. E não será do desejo e sedução que hoje se vive? Devagar mas passando ao largo. Em Zen mas com o âmago em trepidação. Inquietação, distracção, desagregação, intenção de tempo, vontade. Humanismo que não me choca, numa era pós-humana, virtual, cibernética.
O tempo que se dilui, que se cruza com todos os tempos, que permite que surjam pessoas interessadas no que foi "do tempo" dos pais ou até "do tempo" dos avós. Há possibilidade, querendo-se, de viver "qualquer tempo": o tempo e o peso dos ideais de outrora, ou o tempo e leveza que pinta os dias de hoje; até mesmo os dois aos mesmo tempo! Há espaço, tempo, tolerância, que se mantém e sustém numa saborosa ilusão de controlo, poder... haverá liberdade, Emily? Incoerente e desesperado, é agora esse tempo que nos é tão valioso. Tempo vivido numa rapidez e superficialidade denunciadas pela atenta análise da Arte.

Exposição a não perder e especialmente para reflectir. Haja tempo!







Futurismo em Portugal e onde teve a sua génese, na Itália, para pouco depois explodir em Paris no "Le Figaro", em 1909. Saudades de ter estudado isto...




Chamo a atenção para as sobreposições de texto.
O mentor foi Tristan Tzara, a partir de Zurique, 1916.







Lembram-se dos Merzbau do Schwitters?







SPN 1934, A Hora é Nossa.




Da Rússia...




Significado. Estabilidade.




Esta sala tem, na sua maioria, cartazes alusivos a música clássica e ao que chamam de clássica contemporânea. Na sala ao lado, à esquerda, encontram-se outros média - televisores com imagens em movimento - e os cartazes abaixo.




Anos 50.




Velocidade, também na expressão.




Panorâmica de um conjunto de cartazes sobre música clássica. Ritmo.

domingo, 13 de setembro de 2009

VAZIO




Amores... ou ossos de um ofício nesse amar, que pode ser... o quê?... um vazio ou uma negra e obscura dor de alma, de corpo?... Amar é esse Ofício cruel, que gasta e desgasta e que sucumbe em si e para si. É uma febre, uma doença exultante, uma contradição e uma tenebrosa magia de todas as cores.

Fotografia da t-shirt associada ao lançamento do último álbum da banda portuguesa Acceptus Noctifer.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

As costureiras do bairro




As máquinas de costura

Por Alexandra Prado Coelho

Há máquinas de costura da Singer muito antigas, decoradas a dourado com imagens da Esfinge, e outras mais novas de plástico branco e sem desenhos de terras distantes, que ocupam todo o espaço livre, até ao tecto, desta pequena loja no nº 59 da Rua dos Cavaleiros. Paulo Sousa é hoje o gerente do estabelecimento do seu padrinho, numa rua onde já chegaram a existir cinco lojas do género e onde hoje sobrevivem apenas duas. Quando a casa abriu, há 66 anos, "havia muitas costureiras aqui", conta Paulo, que aos 17 anos já trabalhava nesta área. Agora há máquinas destas que são peças de colecção e outras que, mesmo velhinhas, ainda vão servindo para pequenos arranjos. Mas já não será fácil encontrar personagens como a da costureira cuja lenda Madalena Victorino está agora a contar: seduzida por um menino de família, a costureira foi abandonada, tuberculosa, num quarto miserável e sempre que ouvimos um cano a fazer barulho nas nossas casas é a pobre costureira a tossir no meio da sua infelicidade.
Há festa no bairro mais multicultural de Lisboa

Esta notícia fez-me lembrar a minha Avó, que usou activamente uma PFAFF a sua vida inteira. É que estes maravilhosos objectos eram feitos (e muitos ainda o são) para durar. Máquina semi-industrial. Orgulho das costureiras.



Costura que é um gosto, pois eu também já a experimentei.
Um dia destes ainda hei-de fazer umas bainhas numa destas:



Se calhar até poderei ter sorte na loja do Sr. Paulo Sousa. Caso visite, coloco fotografias.
Embora saiba que a Singer tem autênticas obras feitas a este nível, esta coisa com a PFAFF vem de família. Vá-se lá explicar...

domingo, 30 de agosto de 2009

CONTRASTES



Lisboa, Praça de Londres

Pérolas a Porcos...










Edificio de traço arquitectónico modernista, projectado por Cassiano Branco em 1947, foi terminado em 1952. Estrutura-se através de planta rectangular, bloco único, cujo alçado principal, que se encontra virado a Norte (precedido de escadaria) é definido espacialmente através de uma ampla estrutura envidraçada que acompanha o primeiro registo da construção. A gramática decorativa da fachada traduz-se em linhas verticais coroadas por esferas armilares em ferro forjado. O espaço interno orienta-se em torno de corredores de passagem, que fazem ligação entre os três pisos e a sala de espectáculos. A corroborar a linguagem plástica, modernista, patente nesta obra, destaca-se o painel cerâmico de Jorge Barradas, que decora o restaurante do piso térreo. Actualmente, é a sede da Igreja Universal do Reino de Deus.

Ainda gostava de entender isto. Com tanta gente a gostar de cinema e eles a caírem que nem tordos. A única coisa que me indigna é que esses cinemas foram transferidos para as catedrais do consumo e já ninguém se desloca ao cinema pelo cinema, mas sim ao centro comercial e, já que lá estão, 'bora lá ver um filme.
Quanto ao cinema aqui retratado, o seu Império é outro, e nem Divino se me afigura.


Fonte

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Realidade e reflexo



Lisboa, Cais do Sodré

sábado, 22 de agosto de 2009

Lisboa melhora?








Lisboa, intersecção entre a Rua do Alecrim e a Rua Nova do Carvalho


Inspiração

À ESPERA



Lisboa, Saldanha

segunda-feira, 27 de julho de 2009

DESEMPREGO

Excelente artigo, publicado no blogue fadocravo, aqui publicado novamente em jeito de homenagem, para não cair no esquecimento!!

«Hoje, no noticiário da hora de almoço, ouvi esta coisa extraordinária: -que há patrões que querem empregados, mas não os conseguem... Explicava-se seguidamente que, afinal, embora tanto se falasse de desemprego, a verdade é que há muita gente que prefere (sobre)viver com o SUBSÍDIO DE DESEMPREGO do que arranjar/aceitar TRABALHO. O que é extraordinário, nesta notícia, é o facto de aparecer como um facto recente, coisa descoberta agorinha mesmo por informador encartado, após aturada investigação! Ora, meninos, esta realidade já tem as primeiras brancas a despontar!... Não digam que jamais tinham reparado na imensa mole de gente que se passeia a qualquer hora, de qualquer dia, pela cidade, sem sinais aparentes de andar a trabalhar...que jamais tinham reparado que os locais de lazer estão sempre cheios...que jamais tinham reparado que a última moda é mesmo fazer pós e ultra graduações, para ocupar o tempo, enquanto não aparece o emprego que se pretende... Pois é, agora ou se está no desemprego, sendo subsidiado por todos nós ou se é subsidiado pelos papás! Só alguns aceitam o (sub)emprego, tentando depois alterar essa condição, não sendo pesados a ninguém! Mas, já agora, perguntaria: - a massa de desempregados que por aí circulam, acerca dos quais já todos percebemos o que querem fazer, SABEM FAZER O QUÊ ? , i.é, que COMPETÊNCIAS têm? Ou são doutores, e ainda não sabem nada, ou então têm uma brilhante escolaridade obrigatória que também não os habilitou para coisa alguma... .... .... Onde é que ficaram as Escolas Técnicas e os belíssimos profissionais (artistas) que formavam? Quem são os responsáveis pelos crimes que se têm vindo a praticar no Ensino ? Por que cabeças iluminadas passa a peregrina ideia de que todos têm que tirar um curso superior e que as "crianças" não devem trabalhar ? Mas que crianças? Então as crianças, essas sim, que trabalham como actores, essas já podem trabalhar ? Ou serão as que já podem ir para as discotecas, beber uns copos e dar umas quecas e espetar-se com o carro do papá que é um porreirão, que não podem contribuir positivamente, trabalhando, para o bem comum ? Quando eu era estudante, havia meia dúzia de carros estacionados no campus universitário e todos tínhamos que pagar propinas e livros, excepto os óptimos alunos, cujos pais atestassem dificuldades financeiras - esses não pagavam. Então, mas estes meninos agora, que se apresentam com grandes máquinas, roupa de marca, vivendo na boa... então esses meninos, os pais dessas criaturas não terão vergonha de não pagar as propinas ? de andarem a explorar um pouco todos nós, os que TRABALHAM e PAGAM OS IMPOSTOS ?!...
Por onde é que a vergonha anda a passear????
O que me atormenta é que, mais dia, menos dia, acabam mesmo com o subsídio de desemprego. E essa medida vai afectar unicamente todos os que, por qualquer infortúnio não programado, perderam o emprego que tinham, mas querem mesmo trabalhar . E o que me chateia é o facto de, nesta cena do deixa andar, quando as cordas apertam quem se lixa é normalmente quem não tem culpa e anda certinho. Os outros, os espertalhuços arranjam sempre maneira de se safar bem......

posted by Fadista | 31.5.05»

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A sua classe? Ex-classe média

Por Pedro Lomba, Publicado em 17 de Julho de 2009 no Jornal I

Leio na "Time" desta semana uma reportagem sobre a nova geração dos 20 anos na Europa. O local: Espanha, após o apogeu dos últimos anos (mas bem podia ser França ou Portugal, porque a realidade não é muito diferente). As personagens: jovens com menos de 30 anos, uns no desemprego, outros com trabalhos mal pagos na economia dos serviços. O argumento: de filme negro, série B, sem nenhum final feliz. Um longo cardápio de queixas, desilusões, frustrações. Ou, traduzindo em palavras mais directas, os novos vintões e vintonas, mesmo cheios de mestrados e doutoramentos, podem vir a ser a primeira geração desde há décadas a descer de classe social.
É assunto para pensarmos um pouco. Esta crise está a atingir, com maior ou menor intensidade, todas as classes. Todas têm perdido alguma coisa, quer seja poder financeiro, quer seja a fonte de toda a sobrevivência: o emprego. Os ricos que confiaram nos Madoffs e BPP ficaram menos ricos, os pobres que não tinham recursos para aguentar o embate, as classes médias que viram gorar-se os seus projectos de estabilidade e consumo. Umas sofrem mais do que outras, umas resistem melhor do que outras, e essa desigualdade de base faz toda a diferença. Mas é certo que a crise mundial não deixou ninguém ileso.

Ficámos todos mais pobres, mais retraídos, mais pessimistas. E agora que a recessão pode trazer uma estagnação prolongada, alguém aguenta a ideia de ser obrigado a descer de classe social?

O escritor romeno Eugene Ionesco disse uma vez que preferia os ricos e os trabalhadores aos burgueses só por causa das suas dúvidas metafísicas. Um rico pergunta: por quanto tempo continuarei rico? Um pobre pergunta: quando deixarei de ser pobre? Pelo contrário, burgueses e classe média não fazem este género de perguntas dramáticas. São menos interessantes. Para estes, a classe social tende a ser vista como um adquirido, tal como o formato da cara ou o apelido de família. Nasci na classe média e ao menos daqui ninguém me tira.
Mas tira; e é o que está a acontecer com a crise. Talvez por isso, o aparecimento de um grupo de pessoas que, tendo pertencido com os pais à classe média, não conseguirão manter esse estatuto, promete ser uma mudança social inquietante. Veremos, já estamos a vê-las, muitas manifestações dessa descida. A ex-classe média irá votar Bloco de Esquerda até se desiludir com o Bloco, ou simplesmente não irá votar. A ex-classe média viverá em casa dos pais até tarde e, muito provavelmente, girará entre empregos, apartamentos arrendados ou relações amorosas sem se agarrar a nada e sem construir nada. Vai ser uma geração cínica e desenraizada, cutucando no Facebook para aplacar a solidão.

Jurista

Na mouche, Sr. Pedro.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um Fado Mal Falado




A Naifa emitem uma tristeza com graça. O sarcasmo e ironia não escondem alguma melancolia trazida pela voz que nos presenteia um qualquer tom teatral. Podíamos associar-lhe um inocente cinismo e uma saborosa hipocrisia. Para quem gosta de fado picadinho como eu, conhecer A Naifa revelou-se uma agradável surpresa, especialmente por existirem alguns indivíduos neste planeta que conseguiram abraçar o fado (bem como outras sonoridades, marcadamente a electrónica) para surpreender pela positiva quem não se surpreende com facilidade.
Alegram-me depois de ouvir Amália, entristecem-me depois de ouvir Hermínia, enlevam-me após ouvir Maria Teresa de Noronha, são o meu vínculo aos nossos tempos. São novidade para os demais, mas não só por ser; fazem pensar, convidam ao deboche sonoro e lírico, são inspiradores mais do que inovadores, trazem o fado a quem normalmente não o ouve nem nunca vai ouvir. São perenes, isso dá-lhes um ar de trágico romantismo... Ainda agora os conheci e já a força criativa central do grupo partiu, deixando saudade.

Os temas que destaco do álbum ainda recente «Uma Inocente Inclinação para o Mal» são "Na Página Seguinte", "Filha de duas Mães", "O Ferro de Engomar", "Pequenos Romances", "Nas tuas Mãos Vazias". Os poemas são pequenas pérolas por vezes sinistras, vãs, cortantes.
Destaco também o artwork do álbum, pejado de formas maliciosas, com um traço incisivo, ambíguo, vibrante com muitas perturbações que se revelam quotidianas e trágicas, individualistas e individuais.

"Nas Tuas Mãos Vazias"

Nas tuas mãos vazias
Onde eu já vivi
Abrigam-se agora
Distintas senhoras
Com as quais
Não posso competir
É assim a vida
Acho que têm razão
Era a mim que a mulher chamava
E fui eu que fingi não ouvir
Tenho um lugar na terra
Guardado para me sepultar
Apagarei a luz do quarto
Regressarás ao teu lugar
Tenho um lugar na terra
Guardado para me sepultar
Fecharei a porta à chave
Regressarás ao teu lugar

"Na Página Seguinte"

Amanhã serei
Jornais antigos
Doente de amor
Fabriquei um romance
Amanha morrerei
Em voz baixa
Pequena de destino
No banco traseiro

Ama com egoísmo
Começarei por mim própria
Imagino-me mais alta
Na pagina seguinte
Filha de cabeleireira
Sinto-me sempre culpada
A técnica minuciosa
Nunca me serviu de nada

Amanhã serei
Sem abrigo
Banco de jardim
Com vista pró mar
Amanha morrerei
Lição de historia
Corpo da criada
Ao serviço da casa

Ama com egoísmo
Começarei por mim própria
Imagino-me mais alta
Na pagina seguinte
Filha de cabeleireira
Sinto-me sempre culpada
A técnica minuciosa
Nunca me serviu de nada



Transcrevi a letra enquanto ouvia, visto não possuir o original. Como tal, efectuei a minha interpretação da estrutura dos poemas.