3 mentes brilhantes, diferentes, desafiadoras, perspicazes, iluminadas, modernas mas adeptas das tradições, tradicionalistas mas a favor de tudo que seja avant-garde, modestas mas não atrofiadas, arrogantes mas com humildade, a favor dos desfavorecidos mas com vontade de viver à grande, com gostos requintados sem descurar o popularucho.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Um Fado Mal Falado
A Naifa emitem uma tristeza com graça. O sarcasmo e ironia não escondem alguma melancolia trazida pela voz que nos presenteia um qualquer tom teatral. Podíamos associar-lhe um inocente cinismo e uma saborosa hipocrisia. Para quem gosta de fado picadinho como eu, conhecer A Naifa revelou-se uma agradável surpresa, especialmente por existirem alguns indivíduos neste planeta que conseguiram abraçar o fado (bem como outras sonoridades, marcadamente a electrónica) para surpreender pela positiva quem não se surpreende com facilidade.
Alegram-me depois de ouvir Amália, entristecem-me depois de ouvir Hermínia, enlevam-me após ouvir Maria Teresa de Noronha, são o meu vínculo aos nossos tempos. São novidade para os demais, mas não só por ser; fazem pensar, convidam ao deboche sonoro e lírico, são inspiradores mais do que inovadores, trazem o fado a quem normalmente não o ouve nem nunca vai ouvir. São perenes, isso dá-lhes um ar de trágico romantismo... Ainda agora os conheci e já a força criativa central do grupo partiu, deixando saudade.
Os temas que destaco do álbum ainda recente «Uma Inocente Inclinação para o Mal» são "Na Página Seguinte", "Filha de duas Mães", "O Ferro de Engomar", "Pequenos Romances", "Nas tuas Mãos Vazias". Os poemas são pequenas pérolas por vezes sinistras, vãs, cortantes.
Destaco também o artwork do álbum, pejado de formas maliciosas, com um traço incisivo, ambíguo, vibrante com muitas perturbações que se revelam quotidianas e trágicas, individualistas e individuais.
"Nas Tuas Mãos Vazias"
Nas tuas mãos vazias
Onde eu já vivi
Abrigam-se agora
Distintas senhoras
Com as quais
Não posso competir
É assim a vida
Acho que têm razão
Era a mim que a mulher chamava
E fui eu que fingi não ouvir
Tenho um lugar na terra
Guardado para me sepultar
Apagarei a luz do quarto
Regressarás ao teu lugar
Tenho um lugar na terra
Guardado para me sepultar
Fecharei a porta à chave
Regressarás ao teu lugar
"Na Página Seguinte"
Amanhã serei
Jornais antigos
Doente de amor
Fabriquei um romance
Amanha morrerei
Em voz baixa
Pequena de destino
No banco traseiro
Ama com egoísmo
Começarei por mim própria
Imagino-me mais alta
Na pagina seguinte
Filha de cabeleireira
Sinto-me sempre culpada
A técnica minuciosa
Nunca me serviu de nada
Amanhã serei
Sem abrigo
Banco de jardim
Com vista pró mar
Amanha morrerei
Lição de historia
Corpo da criada
Ao serviço da casa
Ama com egoísmo
Começarei por mim própria
Imagino-me mais alta
Na pagina seguinte
Filha de cabeleireira
Sinto-me sempre culpada
A técnica minuciosa
Nunca me serviu de nada
Transcrevi a letra enquanto ouvia, visto não possuir o original. Como tal, efectuei a minha interpretação da estrutura dos poemas.
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1 comentário:
Hace pocos días estuvierom en Barcelona invitados por el consulado portugués ("Portugal comvida") yo hube de elegir entre verlos a ellos o a Katia Guerreiro.Obviamente,ganó la surafricana pero siento na haber estado en su ooncierto.
Saludaçoes.
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