segunda-feira, 27 de julho de 2009

DESEMPREGO

Excelente artigo, publicado no blogue fadocravo, aqui publicado novamente em jeito de homenagem, para não cair no esquecimento!!

«Hoje, no noticiário da hora de almoço, ouvi esta coisa extraordinária: -que há patrões que querem empregados, mas não os conseguem... Explicava-se seguidamente que, afinal, embora tanto se falasse de desemprego, a verdade é que há muita gente que prefere (sobre)viver com o SUBSÍDIO DE DESEMPREGO do que arranjar/aceitar TRABALHO. O que é extraordinário, nesta notícia, é o facto de aparecer como um facto recente, coisa descoberta agorinha mesmo por informador encartado, após aturada investigação! Ora, meninos, esta realidade já tem as primeiras brancas a despontar!... Não digam que jamais tinham reparado na imensa mole de gente que se passeia a qualquer hora, de qualquer dia, pela cidade, sem sinais aparentes de andar a trabalhar...que jamais tinham reparado que os locais de lazer estão sempre cheios...que jamais tinham reparado que a última moda é mesmo fazer pós e ultra graduações, para ocupar o tempo, enquanto não aparece o emprego que se pretende... Pois é, agora ou se está no desemprego, sendo subsidiado por todos nós ou se é subsidiado pelos papás! Só alguns aceitam o (sub)emprego, tentando depois alterar essa condição, não sendo pesados a ninguém! Mas, já agora, perguntaria: - a massa de desempregados que por aí circulam, acerca dos quais já todos percebemos o que querem fazer, SABEM FAZER O QUÊ ? , i.é, que COMPETÊNCIAS têm? Ou são doutores, e ainda não sabem nada, ou então têm uma brilhante escolaridade obrigatória que também não os habilitou para coisa alguma... .... .... Onde é que ficaram as Escolas Técnicas e os belíssimos profissionais (artistas) que formavam? Quem são os responsáveis pelos crimes que se têm vindo a praticar no Ensino ? Por que cabeças iluminadas passa a peregrina ideia de que todos têm que tirar um curso superior e que as "crianças" não devem trabalhar ? Mas que crianças? Então as crianças, essas sim, que trabalham como actores, essas já podem trabalhar ? Ou serão as que já podem ir para as discotecas, beber uns copos e dar umas quecas e espetar-se com o carro do papá que é um porreirão, que não podem contribuir positivamente, trabalhando, para o bem comum ? Quando eu era estudante, havia meia dúzia de carros estacionados no campus universitário e todos tínhamos que pagar propinas e livros, excepto os óptimos alunos, cujos pais atestassem dificuldades financeiras - esses não pagavam. Então, mas estes meninos agora, que se apresentam com grandes máquinas, roupa de marca, vivendo na boa... então esses meninos, os pais dessas criaturas não terão vergonha de não pagar as propinas ? de andarem a explorar um pouco todos nós, os que TRABALHAM e PAGAM OS IMPOSTOS ?!...
Por onde é que a vergonha anda a passear????
O que me atormenta é que, mais dia, menos dia, acabam mesmo com o subsídio de desemprego. E essa medida vai afectar unicamente todos os que, por qualquer infortúnio não programado, perderam o emprego que tinham, mas querem mesmo trabalhar . E o que me chateia é o facto de, nesta cena do deixa andar, quando as cordas apertam quem se lixa é normalmente quem não tem culpa e anda certinho. Os outros, os espertalhuços arranjam sempre maneira de se safar bem......

posted by Fadista | 31.5.05»

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A sua classe? Ex-classe média

Por Pedro Lomba, Publicado em 17 de Julho de 2009 no Jornal I

Leio na "Time" desta semana uma reportagem sobre a nova geração dos 20 anos na Europa. O local: Espanha, após o apogeu dos últimos anos (mas bem podia ser França ou Portugal, porque a realidade não é muito diferente). As personagens: jovens com menos de 30 anos, uns no desemprego, outros com trabalhos mal pagos na economia dos serviços. O argumento: de filme negro, série B, sem nenhum final feliz. Um longo cardápio de queixas, desilusões, frustrações. Ou, traduzindo em palavras mais directas, os novos vintões e vintonas, mesmo cheios de mestrados e doutoramentos, podem vir a ser a primeira geração desde há décadas a descer de classe social.
É assunto para pensarmos um pouco. Esta crise está a atingir, com maior ou menor intensidade, todas as classes. Todas têm perdido alguma coisa, quer seja poder financeiro, quer seja a fonte de toda a sobrevivência: o emprego. Os ricos que confiaram nos Madoffs e BPP ficaram menos ricos, os pobres que não tinham recursos para aguentar o embate, as classes médias que viram gorar-se os seus projectos de estabilidade e consumo. Umas sofrem mais do que outras, umas resistem melhor do que outras, e essa desigualdade de base faz toda a diferença. Mas é certo que a crise mundial não deixou ninguém ileso.

Ficámos todos mais pobres, mais retraídos, mais pessimistas. E agora que a recessão pode trazer uma estagnação prolongada, alguém aguenta a ideia de ser obrigado a descer de classe social?

O escritor romeno Eugene Ionesco disse uma vez que preferia os ricos e os trabalhadores aos burgueses só por causa das suas dúvidas metafísicas. Um rico pergunta: por quanto tempo continuarei rico? Um pobre pergunta: quando deixarei de ser pobre? Pelo contrário, burgueses e classe média não fazem este género de perguntas dramáticas. São menos interessantes. Para estes, a classe social tende a ser vista como um adquirido, tal como o formato da cara ou o apelido de família. Nasci na classe média e ao menos daqui ninguém me tira.
Mas tira; e é o que está a acontecer com a crise. Talvez por isso, o aparecimento de um grupo de pessoas que, tendo pertencido com os pais à classe média, não conseguirão manter esse estatuto, promete ser uma mudança social inquietante. Veremos, já estamos a vê-las, muitas manifestações dessa descida. A ex-classe média irá votar Bloco de Esquerda até se desiludir com o Bloco, ou simplesmente não irá votar. A ex-classe média viverá em casa dos pais até tarde e, muito provavelmente, girará entre empregos, apartamentos arrendados ou relações amorosas sem se agarrar a nada e sem construir nada. Vai ser uma geração cínica e desenraizada, cutucando no Facebook para aplacar a solidão.

Jurista

Na mouche, Sr. Pedro.