quarta-feira, 25 de julho de 2007

Gárgula

O Inferno não é tão mau quanto isso, pelo menos quanto nos querem fazer crer. Afinal o que é, onde é? Será o Inferno tão estrangeiro como a existência terrena? O encantamento que apresenta a redundância do estar a existir no momento foi praticado por nós há muito tempo. Quis que ela soubesse tudo, bem, não tudo mas era mais apta do que eu. O que eu vejo ela vê melhor, era assim que costumava pensar e é assim que escrevo agora pois nada apresenta mais sentido. Se existe uma nota musical a sua identificação é tão visível quanto uma equação matemática é lógica. Ela era assim e eu caminhei ao seu lado, não sem ripostar, mas passeei no local dos mortos e tive medo e angustiei-me e vi fantasmas. Os fantasmas aparecem no cruzamento de expectativas itinerantes sobre o ente. Foi aí que me angustiei todos os dias, disparava raios sobre mim, Baphomet era a cabeça onde encostava o meu rosto quando queria chorar. Antes, nunca ninguém nos tinha falado sobre reverberação, depois soube o que isso significava, que caminhávamos todos os dias sobre um chão de espinhos, descalças, sem qualquer protecção mas isso foi há muito tempo e isso é um concerto terrestre, apesar de tudo.
Não acreditem em mim mas há dois anos atrás aprendi que para chegar à Coroa demoraria uma eternidade, como se procurasse subir uma escada sem fim. Quando avistasse o fim morreria, é o que acontece a todos, só alguns conseguem transpor o patamar, o que existe além dele? Só os santos o sabem, os escolhidos para representação do resto. Existe uma divisão dos entes, o que sobra é o resto.
Disseram que a matemática era a chave do universo, quem não a aprende tem que orientar-se com a magia ou a filosofia. A ciência é a toalha que colocamos sobre a mesa para as visitas não repararem nos socalcos da madeira velha e apodrecida com bicho. A religião nada mais é do que o boato da existência, a revista cor-de-rosa; sabíamos isso quando pronunciámos as sagradas letras, os outros eram o perigo de tempestades sobre o espírito mas ela sabia com o que contar, sabia muito bem quem lá estava, o que lá estava, eu não, e cega prossegui mordida pelos assaltantes do costume.

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